Molelos, a minha segunda terra
A minha primeira terra, por ser onde nasci, é Lisboa. Poderei contudo, dizer que a minha segunda terra é Molelos, pelo simples motivo de, desde galfarro passar as minha férias nesta linda aldeia beirã.
Não é por acaso que isso sempre aconteceu; os padranhos de minha madranha eram naturais de Molelos.
É com alegria e saudade que me lembro dos anos da minha juventude. Quase todos os lúzios ia aos pássaros com os gavios da aldeia. Depois de muntinásio andar e já com os chispes doridos, vínhamos para cardanho porque já era chôna e a dónia era muita.
Ainda me lembro muito que alporárramos o zaburro para tirar as minhocas para as ratoeiras. Não só os zaburros levavam desbasto mas também os grépios e as verdiosas. E depois vinha o pior; depois de zularmos a barriga não ficávamos nada bem e por vezes um de nós deixava escapar um leote do fusguete. Ainda me lembro que um dia alporrámos gumasos duma penosa.
Aos Domingos toda a gente da aldeia ia à santosa ouvir o mocas. Depois à tarde os homens iam para a chafarrica chusmar e jogar às papelosas.
Na segunda-feira bem cedo, ia-se á feira lamfiar sígulas com artife acompanhado de bom chosque e à quase inevitável zoeira. De volta ao cardanho, quase sempre de andarilho, tínhamos à espera escamucho com torrépias, regados com o bom corujo da aldeia. De tarde quando o calor apertava bebíamos súrvia até a mitrola ficar turíbia. Os gebros jogávam às papelosas na chafarrica enquanto pendia da moquideira um paivante mal feito. E de vez em quando lamfiando um pecado negro ou um canavarro de cúrria.
Na aldeia tudo é bom; desde o gródio de orelhas de mula passando pela bufa de chiça e acabando nos saborosos rançosos.
Sempre que posso meto-me no meu andarilho e vou até à aldeia mesmo se estiver grízio ou com malheiro.